Afirmo e esqueço a qual serenidade
em mim persiste, como a guerra breve
ao longo de anos que nenhuma neve
abrandará na terra. E tanta idade
é mera circunstância de igualdade.
Infeliz neve que a si própria deve
o esfôrço de pousar, de não ser leve
um tempo antes do gêlo. E se alguém há-de
vir corromper o Sol da primavera,
que esqueça logo o projectar da Esfera
– e, só depois, a Sombra essencial.
Da corrupção, como estro e como guerra,
a brevidade alastrará na terra.
Afirmo e esqueço. Afirmo e esqueço a qual...
Jorge de Sena, Génesis I (2/ 2/ 43).
LITORAL – Revista Mensal de Cultura. Vol. I, N.º 2, p.163. Lisboa, Julho 1944.