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O B J E C T I V A M E N T E

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O B J E C T I V A M E N T E

«uma verdade parcial»

Novembro 15, 2023

Cada um de nossos passos nos aproxima de um ponto de encontro com uma verdade parcial, uma pequena verdade, que do ponto de vista da grande Verdade, é sempre um erro. Com efeito, perigo de irremediável engano corremos a qualquer instante em que nos detenhamos e nos voltemos para olhar o caminho percorrido e proclamar que essa verdade, entrevista, é a absoluta Verdade, pressentida mas oculta. Pressentida; pois certo é que, não o fosse, jamais nos meteríamos a caminho. Só que um mero pressentimento da «poesia», que se manifesta em falar da «beleza» que resplandece na obra de arte, sempre ficará perdido na sombra, muito para aquém da luz da intuição-limite transcendental. Pois o conteúdo da intuição é transcendental ao discurso, e este é a invocação da transcendência que o veri-fica.

 

Eudoro de Sousa, Arte e Escatologia.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.23.

«humanidade inquieta»

Novembro 12, 2023

Só a evolução, na verdade, pode satisfazer adequada e racionalmente a ânsia de movimento da humanidade inquieta. Descontentes com os obstáculos que atrofiam a alma, paralizam o espírito e martirizam a sociedade, é lógico, é necessário, é virtuoso que os homens desejem reduzi-los ou transpô-los para caminhar livremente no processo de ampliação, valorização e justificação da vida irreversível e irrepetível em que emergem.

Surge contudo, nos dias de hoje, uma identificação de conceitos, que importa distinguir para que ela não nos imponha novas formas de paralização do movimento sob a própria máscara do movimento, tão certo é que na origem da detenção estática estão sempre a contradição ou a incerteza conceptual, em geral desatendidas por sobrevalorização do sentimento e da vontade. Referimo-nos à confusão entre os conceitos de progresso e evolução, de progressismo e evolucionismo.

 

António Quadros, Reacção, Progressão, Evolução.
Espiral – Cadernos de Cultura. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.2.

«agora neste caos o caminho»

Novembro 10, 2023

As descrições do homem moderno feitas no decurso dos últimos cinquenta anos dão-nos razões para nos assustarmos: o homem rompeu as pontes que o ligavam ao passado. Vivendo no momentâneo, abandona-se à situação e ao acaso. [...] Parece que o homem entrou no nada. É com desespero que do nada se apossa, ou então destruindo triunfantemente.

[...] A vida humana tornou-se uma vida de massa. Perde-se o individualismo, conforma-se o idivíduo com os diversos tipos que a propaganda, o cinema, o nivelamento da realidade quotidiana, lhe impõem. Sentindo-se perdido, procura reencontrar o sentido da sua dignidade no «nós», integrando-se numa qualquer e colossal potência.

[...]

Hoje temos a impressão de aperceber no homem o caos. Os instintos expandem-se livremente, sem entraves. Algo que apenas na aparência havia sido domado rasga de alto a baixo a cobertura de civilização adquirida no decurso da história. [...]

Mas, para lá do fluxo desta descida, o homem toma consciência daquilo que jamais pode ser completamente destruído: ser homem é tender para um incessante «ultrapassar», é não achar paz senão em algo que se busca, mas que não existe. Todavia, este perpétuo «ultrapassar» do homem gera também uma profunda inquietação que se pode transformar em revolta e em ódio, que pode descer ao nível de um universal desprezo, assumir a torturante forma do aborrecimento, ceder o lugar à angústia, transformar-se num desespero ávido de salvação. Sòmente na aparência a vida se extingue no esquecimento vazio, que só os impulsos vitais povoam.

Há também os silenciosos, os homens verdadeiros, não modelados pela época e de quem, se os não encontrássemos pessoalmente, tudo ignoraríamos. De qualquer modo que se descrevam os homens que hoje vivem, esses homens guardam a sua complexidade e não se deixam reduzir a um tipo único. Grandes massas há que vivem ainda como que adormecidas.

Eis assim esboçados alguns aspectos da humanidade moderna. Importa que encontremos agora neste caos o caminho de um humanismo futuro. Vamos tentar fazê-lo [...].

 

Karl Jaspers, Condições e Possibilidades de um Novo Humanismo.
Encontros Internacionais de Genebra Para um Novo Humanismo. Texto integral das conferências e dos debates. 1949.
Publicações Europa-América. Lisboa, 1964, pp.180-181.

«neste labirinto»

Novembro 08, 2023

A leitura só começa a ser uma verdadeira leitura quando se dirige à singularidade individual de cada um. Aí, porém, as generalizações tornam-se inviáveis.

[...]

 

É que as personagens, tal como as pessoas com quem convivemos, escondem-se mais do que se revelam, fingem mais do que se mostram; dizem mais mentiras do que verdades. E é através de tais formas e modos, neste labirinto análogo ao da vida vivida, que o leitor tem de ir seguindo, atento e desperto, a história que o dramaturgo lhe vai contando.

 

Ernesto Palma (pseudónimo de Orlando Vitorino), A Orientação da Leitura.
Sociedade de Expansão Cultural. Lisboa, 1966, pp.67,139.

«Do que ele nos fala»

Novembro 08, 2023

. . . «O Misantropo», de Molière . . . conta a história de um homem a quem, pelo ingénuo amor de dizer só a verdade, acontece toda a espécie de desventuras. Do que ele nos fala sem resistência é desse homem que tão ingènuamente amava a verdade e em todas as circunstâncias dizia o que pensava. Como é possível tamanha ingenuidade e como, no entanto, é talvez essa a única atitude de um homem sério? Não o permitirá a vida porque a vida é feita, não diremos de mentira, mas de ilusão. Ora iludirmo-nos não é enganarmo-nos. Nesse caso, a verdade é mais para calar do que para dizer. Que padoxal conflito é este inevitável conflito entre o que dizemos e o que pensamos, entre a vida e a verdade?

 

Ernesto Palma (pseudónimo de Orlando Vitorino), A Orientação da Leitura.
Sociedade de Expansão Cultural. Lisboa, 1966, p.140.

«a personalidade do escritor»

Novembro 04, 2023

Eça era essencialmente artista. Para ele, como para todos os grandes escritores, os de vocação, de raiz, de medula, a liberdade e, por consequência, a dignidade humana, chamam-se identidade entre o eu profundo e a sua expressão literária.

[...] O artista . . . vive num mundo de criação imaginativa, de vida interior, de intimidade com as ideias e as emoções e, com frequência, voltado para o futuro.

A Eça de Queiroz faltava sentido prático. Não possuia equilíbrio entre a imaginação criadora e a sensibilidade aguda até à morbidez, dum lado, e, do outro, o sentido frio, objectivo, estrito da realidade.

[...]

Supô-lo um burguês e um proprietário, torcendo os processos e deformamdo as criações literárias ao sabor das conveniências materiais dum herdeiro afazendado, é negar com injustiça clamorosa a personalidade do escritor. Eça de Queiroz permaneceu toda a vida um pobre artista, um proletário das letras, debatendo-se em aflições de dinheiro, visceralmente incapaz de submeter o sonho às leis do interesse.

 

Jaime Cortesão, Eça de Queiroz e a Questão Social.
Seara Nova, Lisboa, 1949, pp.14-16.

«viva e fecundante»

Novembro 02, 2023

Do mesmo modo se sabe que uma obra é mais rica, e por isso mais perdurável, se deu lugar a múltiplas interpretações, se conheceu o apoio fervoroso ao lado da dura contestação, se foi incómoda para si própria ainda que orgulhosa dessa incomodidade, se, enfim, nunca se furtou ao risco tanto das suas dissonâncias como das suas coerências. Eis porque a obra de José Régio atravessou gerações e com elas competiu, sem deixar de, muitas vezes, as empolgar (visto que o desacordo não elimina, necessariamente, a admiração), e eis porque a vemos agigantar-se sobre um episódico purgatório a que nenhuma obra se pode e deve eximir.

Porque uma obra, por fim, se viva e fecundante, é tudo isso: o que nela o autor pôs e o que nela os outros foram incorporando: inquirições, respostas, encontros, desencontros – e paixão. Creio, daí, que uma obra pode esterilizar-se com a reverência orquestrada, pode mirrar-se com o silêncio, tão corrosivo como a solicitude, mas, nunca sai enfraquecida da contradita, mesmo se impiedosa.

Assim, a obra de Régio, que difìcilmente aceita a totalidade de uma concordância, ou de uma discordância, é viva e fecundante – e um dos cumes da nossa história literária contemporânea.

 

Fernando Namora, Sobre José Régio.
Obra colectiva In Memoriam de José Régio, Revisão e organização de J. Silva Couto.
Brasília Editora, Porto, 1970, pp.180-181.

«intermitente embora»

Novembro 01, 2023

A propensão de José Régio para o desenho tornou-se conhecida sobretudo a partir de 1958, ao aparecer a 5.ª edição dos Poemas de Deus e do Diabo, ilustrada «com oito desenhos do Autor». No entanto, desde os tempos de estudante de Coimbra, pelo menos, que Régio gostava de passar ao papel, a nanquim ou a lápis, as figuras criadas pela sua imaginação. Tal actividade manteve-a depois pelos anos adiante, intermitente embora, dela dando provas até breves meses antes do falecimento. Considerando, porém, o cunho amadorístico e lúdico das suas produções plásticas, jamais o artista da palavra lhes atribuiu especial importância, dispersando-as todas pelas mãos de amigos e de admiradores.

[...]

A nanquim os mais antigos, outros a lápis de cor, vários a tinta azul de escrever, estes desenhos avulsos, como os dos cadernos, proporcionam-nos, para além do significado plástico, elementos positivos para a interpretação da angústia metafísica de Régio [...], ou para o estudo da sua imaginação literária [...], ou para investigação da sua cultura artística [...].

[...]

Quando se publicará entre nós um álbum de desenhos do autor do Filho do Homem?

 

Flávio Gonçalves, A Propósito de Quatro Desenhos de José Régio.
Obra colectiva In Memoriam de José Régio, Revisão e organização de J. Silva Couto.
Brasília Editora, Porto, 1970, pp.206-208,222.

«documento visual»

Outubro 24, 2023

Ver é pensar. Olhar não é pensar.

Ver é a conjugação perfeita dos cinco sentidos. O primeiro sentido é olhar. Cada um dos sentidos é primeiro de cada vez nesta conjugação dos cinco. Assim mesmo a conjugação é sempre Ver.

[...]

A luz é a mais longínqua e a mais rápida das percepções dos nossos sentidos. Mais longínqua no espaço e no tempo e a mais rápida tem «mais diferenças» que outra percepção dos nossos sentidos. Por isso o primado é o da luz. Nos documentos humanos o de maior longevidade é o documento visual. É no documento visual que a continuidade e perpetuidade humanas melhor se acompanham e com mais densidade.

Todos os documentos humanos se serviram do visual para se perpetuarem. Mas propriamente documento visual é o que, perdido o seu idioma coevo ou a actualidade deste, ou à sua margem, mantém invariável a linguagem que em si expressa.

 

José de Almada Negreiros, Ver.
Editora Arcádia, Colecção Biblioteca Arcádia/Arte. Lisboa, 1982, pp.197-198.

«que da vida faz arte»

Outubro 23, 2023

Resumindo e concluindo: Da posição do indivíduo sensibilizado depende o ser, ou não, artística a sua expressão. Uma expressão há que tenho chamado vital – a qual não passa de a própria vida manifestando-se – e que é primária em relação à expressão artística. Por outras palavras: conteúdo e motivo desta. Assim é que já há expressão artística na reprodução (nunca plenamente mecânica, ou fotográfica, pois sempre interpretativa por coada através duma personalidade) daquele manifestar-se a vida. Sempre, nesta expressão segunda – expressão duma expressão – se exprime por mero jogo a personalidade profunda do expressor, isto é: do homem-artista. Expressão segunda ou mediata, lúdica, interpretativa ou transfiguradora, tal é a expressão artística. [...]

O que em verdade pré-existe no espectáculo teatral é o texto: mesmo nas hipóteses extremas de só existir em transmissão oral ou esquema mental. [...] Ao autor dum texto literário que, porém, transcende a literatura por implicar uma visão no palco perante uma assistência, cabe insuflar no espectáculo teatral a intenção profunda e, simultâneamente, a ideia dum jogo através do qual essa intenção se revele, a densidade humana e, simultâneamente, a força de transfiguração que da vida faz arte.

 

José Régio, Fragmento sobre Teatro.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano II, Número duplo 6/7, Verão de 1965, pp.28-29.

«Fragmento»

Outubro 22, 2023

Tendência para o espectáculo, eis, pois, o que antes de mais define como teatral um texto literário. Assim comummente se diz que é teatral, ou espectacular, aquela poesia que mais convida a ser declamada – sem dúvida há um verbalismo espectacular – e até a sê-lo sobre cenário adequado, sob efeitos de Luz, com desenvolvimento do acompanhamento mímico e, porventura, comentário musical. Outrotanto se poderá dizer do trecho em prosa que mais tenta o orador, pois certamente o orador é em parte um actor. E frequentemente se arranjam peças de teatro de aqueles romances ou novelas em que o diálogo, o movimento das cenas, a caracterização das figuras, a construção da obra, sugerem uma transplantação para a cena. [...]

Que vem, então, a ser teatro? Antes de mais, e como já se disse, espectáculo. Mas não espectáculo qualquer. [...] Teatro é um espectáculo expressivo. Quero dizer: artístico.

A verdade é que toda a arte é expressão. Nem o que às vezes chamamos sugestão é outra coisa senão expressão menos directa ou mais subtilizada. Aquém ou além da expressão, ainda não há arte ou já a não há.

 

José Régio, Fragmento sobre Teatro.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano II, Número duplo 6/7, Verão de 1965, pp.26-27.

«com perspectiva rara»

Outubro 20, 2023

Com aguda consciência reflexiva do tempo e da história, única ao que supomos na filosofia portuguesa, com agudo e duplo sentido da liberdade e de um destino actual a cumprir, mas com perspectiva rara do tempo aberto e da Eternidade, que o separam no princípio, no meio e no fim do pequeno cristianismo e das concepções lógicas ou dialécticas sem garantia, Leonardo Coimbra transmitiria, na sua obra e no seu magistério, suma responsabilidade de pensar e filosofar aos vindouros.

A suma responsabilidade está, por um lado, em não podermos abandonar os caminhos próximos da filosofia e da experiência vital dos homens, para retomarmos uma tradição venerável, como se tudo quanto foi e está sendo não tivesse sido ou não devesse ter sido. Por outro lado, a dificuldade surge em que os camminhos da razão do homem, em termos de lógica, metodologia ou dialéctica, assinalam o outro excesso. Chamemos-lhe o terrestre excesso. Assim se defronta mais uma perplexidade inevitável, na mente reflexiva e atenta, inevitável mesmo quando tenhamos de aceitar as razões cristãs e post-cristãs de tudo quanto foi e se nos impõe ainda. Se nos impõe ainda: já com maior autenticidade de crer e de pensar, já com arbitrária desmesura da fé sofisticada ou da razão unilateral e pressurosa.

 

José Marinho, Dialéctica e Dianoia.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.49.

«do nosso entender»

Outubro 19, 2023

No horizonte actual do conhecimento, em que a ciência se prolonga até ao limiar das leis mais subtis da natureza, ainda o homem se interroga na tentativa de compreender os mistérios que mais intìmamente determinam a sua existência. Se no entanto penetrarmos remotamente no tempo, vemos que o saber antropológico foi sempre o fundamento de todos os pensadores que aspiram à percepção mais originária e essencial. O fenómeno humano é sempre suficiente e significante, mesmo para aquelas filosofias que, visionando a evanescência das formas naturais, entenderam que esta se deverá subsumir na ordem do absoluto, na perenidade substancial do ser. [...]

Muitos pensadores em nome da razão e da objectividade tentam construir um esquema intelectual que explique o horizonte da realidade concreta. Percepcionando através dos sentidos os movimentos dessa fenomenologia, prestam o consequente tributo a essas manifestações moldando empìricamente as ideias e os conceitos. São no entanto obrigados a reconhecer que o mundo natural que nos rodeia transpõe em cada fenómeno o horizonte dos nossos sentidos, sendo por isso um motivo de estímulo ao prolongamento do nosso entender e à projecção do nosso imaginar.

 

Luís Furtado, Conhecimento do Homem perante a Ciência.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.35.

«energia primordial»

Outubro 17, 2023

. . . o mundo natural que nos rodeia transpõe em cada fenómeno o horizonte dos nossos sentidos, sendo por isso um motivo de estímulo ao prolongamento do nosso entender e à projecção do nosso imaginar. [...] A matéria, esse ponto fixo de partida, fluidifica-se aos nossos olhos, é energia, é movimento...

[...]

O homem é pois aquele ser em que o pensamento se reconhece a si próprio no universo das imagens que o rodeiam e infinitamente se reflecte até à origem régia e essencial das coisas.

[...]

O auto-conhecimento do homem e da sua evolução para uma culminância escatológica só encontra o verdadeiro caminho quando ele se apercebe, em íntima vivência, que o pensamento é em última síntese uma expressão consciente da energia primordial que criou a natureza.

 

Luís Furtado, Conhecimento do Homem perante a Ciência.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, pp.35-36.

«quotidianamente»

Outubro 14, 2023

Este conflito entre o livre-arbítrio e as formas de coacção social também não é novo: nova, porém, é a sua intensidade actual.

Com efeito, nunca o simples cidadão viu a sua liberdade pessoal tão enaltecida como hoje: de toda a parte se solicita o seu voto, a sua adesão, a sua anuência; os seus direitos, a sua importância, o seu valor são tomados em alta consideração e objecto de solícitas atenções. Tudo se faz para o seu bem – para a sua promoção, para a sua educação, para o seu conforto, para a sua projecção, para o seu futuro. E, apesar disso, não obstante certas melhorias efectivas, imposições de toda a ordem forçam-no, quotidianamente, a dar-se conta da sua nudez, do seu isolamento, da incerteza do seu destino perante o desencadeamento de forças económicas imprevisíveis, de coacções políticas, policiais, legais, perante a eclosão de conflitos, de guerras, de catástrofes sociais de toda a ordem. A liberdade individual desvanece-se sob a pressão de tantas «transcendências». E se o mundo moderno lhe promete a realização de todas as utopias, tornadas possíveis pela tecnologia avançada, amiude substitui essa promessa pelo pesadelo concentracionário, e surge-lhe mais ameaçador e sinistro do que nunca.

Submetidas a pressões tão violentas e contraditórias, é natural que as articulações que ligam o indivíduo ao corpo social se ressintam e se tornem dolorosas.

 

Lima de Freitas, A Arte Moderna: Explosão de Formas, Implosão da Consciência Temática. 3. Intensificação da incerteza semântica.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.13.

TERMINOLOGIA

Outubro 14, 2023

O termo intuição, como o termo inteligência, como o termo razão, resultam, porém, equívocos, tantas são as significações pelas quais culturalmente e pedagògicamente se desfiguraram. Já o tínhamos indicado, mas sem êxito algum.

 

José Marinho, Dialéctica e Dianoia.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.50.

«do viver e do ser»

Outubro 08, 2023

Segundo o pensamento de Leonardo Coimbra, a que neste ponto permanecemos especialmente fiel, seria a doutrina da unicidade, tornada fácil e impensada, motor subjacente e origem do processo.

Noutros termos: o homem seria um ser de absoluto que tenderia a pôr incessantemente de parte algo de essencial na relação com outro, quer esse outro aparecesse no plano natural, quer na ordem humana, quer na esfera divina. O grande engano e fonte de enganos estaria na radical absolutização que constitui o fundo do ser e do saber do homem. E aquilo que os homens procuram ou vàriamente seguem, seria o mesmo que desde o seu próprio fundo os move: quer quando possuem o seu corpo, a sua alma ou os bens passageiros da terra, quer quando se apossam sentindo, percebendo ou concebendo do seu mundo, quer quando em todas as formas do saber ou da vida religiosa se detêm, crentes ou descrentes, no que são, no que aprendem ou supõem compreender, absolutizando um momento da viagem (significado da ciência em Do Amor e da Morte – desatentos à relação autêntica da imediatidade e da mediatidade, ao duplo sentido de absolutizar e desabsolutizar que está no fundo de tudo quanto existe, e de mil modos se patenteia em toda a reflectida e comum experiência do viver e do ser.

[...]

Se, ao fim e ao cabo, tudo depende do Espírito, em que medida, ao dizer Espírito, não acrescentamos ou retiramos ao sentido filosófico do que se designa algo que lhe é próprio?

 

José Marinho, Dialéctica e Dianoia.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, pp.53-54.

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Literatura, Arte, Filosofia, Cultura.

Pensamento e crítica em

Língua Portuguesa.


Com a responsabilidade própria de cada um (autores e leitores).

Sem inferências: sem extrapolações.



Sínteses

o mundo - pensou e pensará - paysagens
cultura - porém - desmedida
e o imaginário - a ressoar - nomes opacos
infinitamente - um drama - da inteligência
ponto de vista - Espírito - dor escondida
ainda - do limite - das dramáticas vivências
a realidade - a Vida - a inconsciência
A violência - uma constante - da história
importa...saber - Os factos - de complicações
Ser Profundo - na medida - nem...nem...
Com efeito - Não há factos - Do absoluto
Em suma - como suicidas - que correm...
Este mundo - exuberantemente - superficial



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PERCURSO_(cancelado) . PATRIMÓNIOS . EMINENTEMENTE_AUTODIDACTA . PROMONTÓRIOS . HISTÓRIA_AZULEJO_ARTE_PORTUGAL . MURAL_COLECTIVO . CINEMA.PINTURA.POESIA.MÚSICA_(canc.) . «Non_sine_altera» . VIRTUOSISMO . ARTE_ROMANCEADA . COMPETÊNCIAS . TRADICIONAL . SIGNIFICADO . VENTOS_E_OCEANOS . CULTURAL_IMATERIAL . RECOLHER_OBRIGATÓRIO . SARAU_DE_ACADEMIA . SONORIDADES . A_TEMPESTADE . PELA_RAMA . TESTEMUNHOS . ELEVAR . «chocalheiro» . GUITARRA_PORTUGUESA



Marcos

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Tema

15 de Julho de 1867

«Portugal acaba de abolir a pena de morte. Acompanhar este progresso é dar o grande passo da civilização. Desde hoje, Portugal é a cabeça da Europa. Vós, Portugueses, não deixastes de ser navegadores intrépidos. Outrora íeis à frente no Oceano; hoje ides à frente na Verdade. Proclamar princípios é mais belo ainda que descobrir mundos.»

Victor Hugo, Carta a Pedro de Brito Aranha





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Referências

Plurais

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Álvaro Ribeiro (1905-1981)

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Álvaro de Campos

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José Marinho (1904-1975)

José Régio (1901-1969)

Leonardo Coimbra (1883-1936)

Lima de Freitas (1927-1998)

Orlando Vitorino (1922-2003)

Ernesto Palma

Raúl Brandão (1867-1930)


Parcelares

Adolfo Casais Monteiro (1908-1972)

Agustina Bessa Luís (1922-2019)

António Braz Teixeira (n.1936)

Bernardo de Brito O. Cist. (1569-1617)

Campos Monteiro (1876-1933)

Carlos Queiroz (1907-1949)

David Mourão-Ferreira (1927-1996)

Delfim Santos (1907-1966)

Eduardo Lourenço (1923-2020)

Fernanda de Castro (1900-1994)

Fernando Namora (1919-1989)

Fidelino de Figueiredo (1889-1967)

Florêncio Terra (1858-1941)

Francisco da Cunha Leão (1907-1974)

Gabriel Mithá Ribeiro (n.1965)

Geraldo Bessa Victor (1917-1985)

Henrique Barrilaro Ruas (1921-2003)

Jaime Cortesão (1884-1960)

Jorge de Sena (1919-1978)

José Eduardo Agualusa (n.1960)

José Rodrigues Miguéis (1901-1980)

Júlio Brandão (1870-1947)

Lídia Jorge (n.1946)

Luís Forjaz Trigueiros (1915-2000)

Luiz Francisco Rebello (1924-2011)

L. Ribeiro Soares (1911-1997)

Miguel Torga (1907-1995)

Natércia Freire (1919-2004)

Ramalho Ortigão (1836-1915)

Romeu de Melo (1933-1991)

Sampaio Bruno (1857-1915)

Sant'Anna Dionísio (1902-1991)

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Teixeira de Pascoaes (1877-1952)

Vasco Graça Moura (1942-2014)

Vergílio Ferreira (1916-1996)

Vitorino Nemésio (1901-1978)


Singulares

Aarão de Lacerda (1890-1947)

Agostinho de Campos (1870-1944)

Alexandre Fradique Morujão (1922-2009)

Alves Redol (1911-1969)

Anthero de Figueiredo (1866-1953)

Antero de Quental (1842-1891)

António Alçada Baptista (1927-2008)

António Damásio (n,1944)

António Ennes (1848-1901)

António José Saraiva (1917-1993)

António Lobo Antunes (n.1942)

António Lopes Ribeiro (1908-1995)

António de Mascarenhas (1916-1993)

António Sérgio (1883-1969)

Aquilino Ribeiro (1885-1963)

Arnaldo França (1925-2015)

Augusto Saraiva (1900-?)

Bernardo Santareno (1920-1980)

Carlos Botelho (1899-1982)

Carlos Paredes (1925-2004)

Castro Soromenho (1910-1968)

Cecília Meireles (1901-1964)

Costa Pinheiro (1932-2015)

Daniel Bernardes (n.1986)

Dom Marcos Barbosa O.S.B. (1915-1997)

Duarte Ivo Cruz (n.1941)

Eça de Queiroz (1845-1900)

Eudoro de Sousa (1911-1987)

Fernando Lopes Graça (1906-1994)

Fernando Sylvan (1917-1993)

Ferro Rodrigues (Eduardo Alberto) (1925-2006)

Flávio Gonçalves (1929-1987)

Francisco Sottomayor [Filos.] (1927-1985)

Frederico de Freitas (1902-1980)

Gabriel Magalhães (n.1965)

Heloisa Cid (1908?-?)

J. Coelho Pacheco (1894-1951)

João Ferreira OFM (n.1927)

João Gaspar Simões (1903-1987)

João Tavares (1908-1984)

Joaquim Manso Com.S.E. (1878-1956)

Joel Serrão (1919-2008)

Joly Braga Santos (1924-1988)

Jorge Peixinho (1940-1995)

José Afonso (1929-1987)

José-Augusto França (1922-2021)

José Hermano Saraiva (1919-2012)

José Leite de Vasconcelos (1858-1941)

J. Teixeira Rego (1881-1934)

Júlio [dos Reis Pereira] (1902-1983)

Júlio Dantas (1875-1962)

Júlio Pereira (n. 1953)

Lauro António (1942-2022)

L. Ribeiro Soares (1911-1997)

Manoel de Oliveira (1908-2015)

Manuel Breda Simões (1922-2009)

Manuel Ferreira Patrício (1938-2021)

Marcelino Mesquita (1856-1919)

Maria do Carmo Vieira (n.1952)

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Maria João Pires (n.1944)

Maria Judite de Carvalho (1921-1998)

Mário Cesariny (1923-2006)

Mário Cláudio (n.1941)

Mário Saa (1893-1971)

Moniz Barreto (1863-1899)

Nadir Afonso (1920-2013)

Nunes da Rosa (1871-1946)

Nuno Gonçalves (Século XV)

Oliveira Martins (Joaquim Pedro) (1845-1894)

Orlando Ribeiro (1911-1997)

Orlando Taipa (1921-1990)

Rómulo de Carvalho (1906-1997)

Santiago Naud (n.1930)

Sérgio Azevedo (n.1968)

Silva Telles (1860-1930)

Soeiro Pereira Gomes (1910-1949)

Teixeira de Carvalho (1861-1921)

Theophilo Braga (1843-1924)

Trindade Coelho (1861-1908)

Vianna da Motta (1868-1948)

Victor Mendanha (1941-2021)

Viriato Soromenho-Marques (n.1957)

Vitorino (Salomé) (n.1942)

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)


Particulares

Alexandre Coelho

Antunes Valente

Fernando Morgado [Arq]

Fernando Ruy dos Santos Gilot

Fernando Sant'Ana

Graça Almeida Rodrigues

Humberto d'Ávila

Luís Chaves

Luís Furtado

Luís Teixeira

Márcia Seabra Neves

Manoel Monteiro

Santos Alberto



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