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O B J E C T I V A M E N T E

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O B J E C T I V A M E N T E

«Nas falas dos bonecos»

Março 26, 2024

. . . cabe recordar as belas palavras de Almada que, no seu modo inconfundível, nos legou toda uma teoria síntese da linguagem – comunicação.

«É bem conhecida a facilidade com que os palhaços se fazem entender pelo público, e pena é que eles não saibam mais coisas para no-las dizerem daquela maneira tão agradável. Se eles soubessem tanto como os sábios, nós todos passaríamos a ser sábios, por termos aprendido com os palhaços. Mas, infelizmente, os sábios não sabem dizer o que sabem, e os palhaços sabem, mas não sabem nada.»

Sábio é o artista Almada Negreiros, que para o seu teatro trouxe uma expressão, não dos palhaços, mas bem contemporânea e igualmente simples, imediata, pura e quase infantil. Nas falas dos bonecos, do Pierrot e do Arlequim, da Sereia e do Marujo, de todos eles – nessas falas, marcadas pelo mais certo modernismo e pelo lirismo maior, vem ao de cima toda a inventiva admirável de um poeta, que usa linguagem ingénua, em resumo simbólico que Almada gosta de empregar.

No ano do cinquentenário do Orfeu, é-nos grata esta evocação do grande criador e renovador da Arte portuguesa. Porque Orfeu quer dizer Arte, e quer dizer renovação: e do grupo genial, este que aqui estudámos – é um dos seus grandes poetas, é o maior dos seus plásticos, é o único dramaturgo que como tal se realizou.

 

Duarte Ivo Cruz, Almada – Estética e Dramaturgia.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros.
Lisboa, Ano II, Número Duplo 6/7, Verão de 1965, pp.121-122.

Almada Negreiros, Pierrot e Arlequim.
Portugália Editora, Lisboa, 1924, pp.11-12.

«entre os entendimentos pessoais»

Março 25, 2024

O desenho é o nosso entendimento a fixar o instante.

[...]

Ao contrário do trabalho, da construção que exige tempo, composição e volume, o nosso entendimento é rápido, claro e simples. A perfeição do entendimento é momentânea e, por consequência, há que fixá-la.

Por isso o desenho é o melhor amigo do entendimento.

É corrente, quando alguém não percebe o que se lhe diz, acrescentar: precisas que te faça um desenho?

E o facto é que este é o processo definitivo.

De uma boa descrição literária se costuma dizer: parece um desenho. Não é indispensável fazer linhas ou traços para desenhar.

Tudo o que tem clareza de entendimento tem a função do desenho.

Mas entendimento não é o mesmo que inteligência. Esta é a ligação e a harmonia entre os entendimentos pessoais.

 

Almada Negreiros, O Desenho [Junho de 1927].
Obras Completas 5, Ensaios I.
Editorial Estampa, Lisboa, 1971, p.13.

AS LINHAS

Março 22, 2024

Preocupa-os demasiado a palavra modernismo.

Seguramente ignoram que a personalidade não se recebe dos outros, mas sim necessita que cada um a liberte de si próprio.

[...]

Uma época não é apenas uma questão de tempo mas essencialmente um sentido do novo no tempo.

[...]

Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir mas sim uma maneira de ser.

[...]

Disse Balzac que o mundo se divide em três classes de pessoas: os ociosos, os ocupados e os artistas. Quer dizer que o artista não é ocioso nem ocupado. Pois bem, é esta em definitivo a expressão do homem moderno: a de artista.

Não é a ociosidade o que nos apetece, nem a ocupação o que procuramos. Amanhã o mundo saberá o que é.

 

Almada Negreiros, O Desenho [Junho de 1927].
Obras Completas 5, Ensaios I.
Editorial Estampa, Lisboa, 1971, pp.15-16.

«O homem do humanismo»

Março 19, 2024

O resultado [...] foi, com efeito, a constituição definitiva do humanismo ocidental, moldado em bronze pela fusão, no mesmo cadinho, da filosofia grega, do espírito jurídico latino e da teologia judaico-cristã. A noção essencial que sairá daqui vai ser o valor da pessoa humana. O homem do humanismo será simultâneamente o sábio grego, que permanece livre para sempre, de uma liberdade incoercível, a do Espírito, que nem por um segundo a taça da cicuta poderia perturbar; o civis romanus que proclama a sua dignidade até ao madeiro a que Verres o pregou; e o cristão que prefere ser lançado aos leões a sacrificar nos altares de César.

O nosso triplo humanismo (e é nisto que o seu alcance ultrapassa de longe o simples interesse literário) conduziu, portanto, a esta noção essencial da dignidade eminente da pessoa humana.

 

René Grousset, O Humanismo Clássico e o Humanismo Moderno.
Encontros Internacionais de Genebra Para um Novo Humanismo. 1949.
Texto integral das conferências e dos debates.
Publicações Europa-América. Lisboa, 1964, p.15.

«na sua realidade viva»

Março 12, 2024

. . . depois desse final do século XIX . . . Houve que examinar outra vez, na sua realidade histórica e na sua realidade viva, as directivas, as tendências, as possibilidades e os desejos do País e traçar sobre essas bases as normas de um procedimento que fosse a um tempo individual e colectivo.

 

Agostinho da Silva, Reflexão à Margem da Literatura Portuguesa .
Os Cadernos de Cultura, Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação.
Rio de Janeiro, 1957, p.86.

 

| Edição ortográfica PT-PT |

«e a dignidade do pensamento»

Março 09, 2024

As grandes, as belas, as boas coisas só se fazem quando se é bom, belo e grande. Mas a condição da grandeza, da beleza e da bondade, a primeira e indispensável condição, não é o talento, nem a ciência nem a experiência: é a elevação moral, a virtude da altivez interior, a idependência da alma e a dignidade do pensamento e do carácter.

 

Antero de Quental.
Apud Comunicações ao Colóquio Pedagógico dos Professores de Filosofia, 2-5 de Novembro de 1959.
Separata do número 7 da revista «Palestra». Liceu Normal de Pedro Nunes, Lisboa, p.16.

«no estranho esquecimento»

Fevereiro 07, 2024

Uma das observações menos divulgadas e, contudo, das mais verificáveis é a de que o desenvolvimento da indústria, o progresso da ciência, o aumento do comércio se encontram na fonte comum das guerras, jogos e lutas; comum também a observação de que a agricultura sofre períodos de agudas crises durante as invasões ou enquanto, perdurando sintomas alarmantes de perigosa doença interna, constatarmos o movimento de evasão. Tanto assim é que, nas expressões fenoménicas actuais destes dois impulsos, o turismo e a emigração, nos deparamos com a inversão dos termos constituintes do antiquíssimo problema que outrora opunha o nómada ao sedentário, o habituado ou habitante, ao movimentado ou viajante. Paradoxalmente, é, nesta época, – que a maioria dos homens reivindica como a melhor ordenada, como a mais progressiva –, que observamos o obsidiante e crescente desejo de paz, com as respectivas construções políticas que a possam assegurar, e a inconsciente negação, por muitos, do lema com que a propaganda positivista conseguiu impor-se à consciência de quase todos.

Em que consiste o que designamos por progredir, o que sinalamos por evoluir? Verbos estes que, por menor contacto e contiguidade com a categoria da quantidade, mais fàcilmente enubeláveis na generalização apressada, deram lugar a inúmeras confusões, no estranho esquecimento de seus contrários. O mundo está em progresso? A natureza humana é sujeito de evolução?

 

Francisco Sottomayor, Domínio da Técnica e Técnica de Domínio.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.40.

«do teatro vicentino»

Janeiro 30, 2024

. . . o teatro de Gil Vicente descende de arremedilhos jogralescos, dos ofícios litúrgicos dos ciclos natalício e pascal, dos momos régios da nossa Meia Idade. O que o génio de Gil Vicente fez (e é imenso!) foi operar uma síntese superior e qualitativa de todos esses elementos, transmutando-os numa forma estética nova, que pode considerar-se a expressão hipostática dos teatros medieval e moderno.

[...]

[No Auto da Barca do Inferno] confluem as duas linhas dominantes do teatro vicentino, a linha satírica e a linha mística, a cada uma das quais correspondem estéticas diferentes: o realismo no primeiro caso, o barroco no segundo. Nesta dualidade reside, a meu ver, a essência do teatro de Gil Vicente, que é, por isso mesmo, e simultâneamente, o último grande poeta dramático da Idade Média e o primeiro da Idade Moderna.

[...]

De Gil Vicente para os nossos dias, nunca mais essas duas linhas, a linha realista e a linha barroca, deixariam de coexistir no nosso teatro. Por vezes divididas, por vezes reunidas no mesmo autor (Raul Brandão, por exemplo; ou, mais recentemente, Santareno). Mas ambas presentes; ambas testemunhando a originalidade de uma dramaturgia que, desde 1536 – ano em que Gil Vicente teria morrido e em que entre nós a Inquisição se restabeleceu –, tem conhecido uma existência difícil e precária, ameaçada pela teimosa permanência do espírito repressivo que levou a incluir, no primeiro Index que em Portugal se imprimiu (o Rol dos livros defesos, de 1551), nada menos que sete autos do maior dramaturgo que em nossa terra até hoje nasceu.

 

Luiz Francisco Rebello, As Duas Faces do Teatro Vicentino.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano II, Número duplo 6/7, Verão de 1965, pp.79-81.

«nas estantes das salas municipais»

Janeiro 18, 2024

Bibliotecas Municipais

São as mais antigas bibliotecas de empréstimo de livros ao grande público. Foram legalmente instituídas em 1852 [...] e, entre as condições legais que as instituiram, inclui-se a criação, nos quadros administrativos de cada Câmara Municipal, de um lugar de Bibliotecário.

Estas Bibliotecas tiveram o seu grande desenvolvimento nas primeiras décadas deste século [XX]. Tal desenvolvimento coincidiu com um período de grande confiança na cultura, na «instrução popular» como então se dizia, e nele se inclui a propaganda das instituições republicanas [...]. A confiança na «instrução popular» já não assentava, como durante o liberalismo, na convicção do poder da razão e da natural bondade do género humano, mas sim na asserção positivista de que, sendo a realidade bem definida nas suas partes e bem ordenada nos seus processos, bastava o conhecimento objectivo e positivo fornecido pela «instrução», para que o progresso da humanidade e das sociedades se desenvolvesse intèrminamente.

As Bibliotecas Municipais constituiram-se a cargo das respectivas Câmaras locais que, com entusiasmo e portanto facilidade, forneceram as instalações e os meios necessários ao seu funcionamento. E como em muitas localidades havia restos de antigas Bibliotecas de instituições religiosas expropriadas pelo regime liberalista, ou livrarias de velhos estudiosos ricos, os seus possuidores apressaram-se a legá-las e doá-las às Bibliotecas Municipais. [...] Todavia, a «instrução popular» não se podia imaginar promovida pelos velhos alfarrábios teológicos e metafísicos, e as Câmaras, através das verbas com que dotaram as Bibliotecas, adquiriram os livros adequados às finalidades que se propunham, à ordem e ao progresso da sociedade. São essas as obras que, cheias de pó, ainda hoje jazem, dentro das suas boas encadernações, nas estantes das salas municipais quase sempre fechadas, cemitérios de livros.

 

Ernesto Palma (pseudónimo de Orlando Vitorino), A Orientação da Leitura.
Sociedade de Expansão Cultural. Lisboa, 1966, pp.79-81.

«pensamento amigo do saber»

Janeiro 15, 2024

Se há um movimento de filosofia portuguesa, este é o movimento que alguns pensadores realizam entre nós de modo sempre singular e livre, partindo da subjectividade que é a sua (e na qual se inclui a categoria de português) para a universalidade que é o escopo de todo o pensamento amigo do saber. Nem sistema, nem ortodoxia filosófica, ideológica ou política, nem grupo, nem intencional coerência ao serviço do nacionalismo ou seja do que for. A máxima diversidade de posições. A maior multiplicidade de critérios. A filosofia nasce com a liberdade intelectual. Não se subordina a interesses, a partidos, a grupos. Que haja intérpretes e historiadores interessados em aproximar os filósofos que entre nós pensam pela sua ligação a uma psicologia portuguesa, a determinadas tradições ou constantes culturais, enfim, à língua que é o seu instrumento de expressão, comunicação e dialéctica, daí não se segue que os pensadores interpretados se diminuam no seu universalismo, antes tomarão talvez mais consciência de um grau de liberdade a que não podem aceder os pensadores estrangeirados, isto é, os que não criam e não inventam por submissos às grandes correntes imperiais da filosofia europeia.

 

Editorial, Espiral, III Ano, Alguns Comentários Necessários.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, p.6.

«a arte explica»

Janeiro 12, 2024

Demonstra todo o curso da tradição interpretativa dos grandes momentos poéticos, que a obra de arte é todas as suas alegorias, actuais ou possíveis; com ela contém em si, como possibilidade, como virtualidade actualizável, todas as significações alegóricas que efectivamente lhe foram atribuídas através dos tempos. O carácter equívoco ou multívoco deste ser, e não apenas do significar, em uma coisa só, todas as suas alegorias, eis a própria determinação do símbolo artístico.

A arte é símbolo e como símbolo deve ser interpretada. [...]

. . . o intérprete sempre terá de alegorizar, isto é, sempre terá de dizer sucessivamente outras coisas, que todas são, ou antes, tendem a ser, o que, simbòlicamente, a obra de arte já veio a ser.

O processo interpretativo que decorre indefinidamente pelos sucessivos estágios alegóricos, tem um limite, que é o mesmo símbolo artístico. [...] Por menor que pareça, a diferença entre a alegoria e o símbolo é rigorosa medida da transcendência da arte.

[...]

Poderia parecer que a transcendência do símbolo artístico vem a inutilizar todos os esforços dispendidos pelo intérprete ao longo da via alegórica. Mas a presença do símbolo, desde que nunca deixe de ser concebida como limite, e visionada como último envolvente e extremo circundante, inatingível por todas as possíveis alegorias, mas a todas elas condicionado, – a presença do símbolo artístico, dizíamos, ilumina e dá a razão que faltava a cada uma das interpretações alegóricas, e a todas elas em conjunto. Neste sentido afirmávamos que «a arte explica, e não se explica». O mistério da arte consiste, do lado da interpretação, precisamente em que, sendo cada acto artístico parte de outro mundo que, em sua realidade material, coincide com parte do mundo que é nosso, as outras partes, de um e de outro mundo, que não coincidem no plano da sensibilidade, vão-se aproximando umas das outras, no plano da inteligibilidade, até ao limite de uma perfeita coincidência em todos os pontos. Mas, repetimos, a perfeita coincidência não se dá senão no limite. O que o intérprete faz, é dizer como, à misteriosa luz do símbolo artístico, se altera este mundo, no sentido do outro.

 

Eudoro de Sousa, Arte e Escatologia.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros. Lisboa, Ano III, Número 10, Verão de 1966, pp.33-34.

«Actualidade do Humanismo»

Janeiro 02, 2024

A catarse pretendida pela tragédia e de que fala Aristóteles visava principalmente a confusa perturbação do homem perante as forças naturais que o transcendem, forças que, amarrando-o a uma fatalidade cósmica relativa ou absoluta, actuavam como cadeias opressoras dos sentimentos, das emoções e da razão.

 

José A. Ferreira, A Actualidade do Humanismo Helénico.
I – O testemunho dos grandes clássicos.
Espiral – Cadernos de Cultura. Direcção António Quadros.
Lisboa, Ano II, Número duplo 6/7, Verão de 1965, p.42.

«entre Deus e os homens»

Janeiro 02, 2024

Só a bruxuleante ponte da subjectividade humana sobrevoa o inconcebível abismo entre Deus e os homens. Para a consciência justificada o »Deus obscôndito» torna-se o mais próximo mas quem, sem se danar, se pode sentir justificado? Toda a angústia moderna decorre desta fonte. [...] À medida que o mundo moderno se desrealiza, a pressão demoníaca amplia-se [...].

 

Eduardo Lourenço, O Espelho Imaginário. Pintura anti-pintura não-pintura.
Artigo Pintura Anti-pintura Não-pintura ou a Nudez do Rei.
O Comércio do Porto, página «Cultura e Arte», direcção Costa Barreto, Dezembro 1962.
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Colecção Arte e Artistas, [Lisboa], s/data [1981], p.53.

«talvez seja Natal»

Dezembro 26, 2023

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

 

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

1962.

 

David Mourão-Ferreira. Cancioneiro de Natal.
III – Natal e não Dezembro.
Editorial Verbo. Lisboa, 1971, pp.17-20.

«esse mundo maravilhoso»

Dezembro 23, 2023

Contemplar, na Noite de Natal, o presépio armado ora sobre a grande cómoda, ora sobre o canapé já com fundo de pau, era para mim um gosto cuja intensidade não poderiam os outros compreender. Chegava, sentado no chão sobre os calcanhares, chegava a imaginar-me transformado numa daquelas figurinhas, e ver-me descer aqueles pequenos grandes montes cobertos de musgo, atravessar aquelas sombrias florestas representadas por galhos de arbustos, vir chegando à cabana onde Nossa Senhora e S. José, extraordinàriamente vivos a meus olhos, se curvavam embevecidos para Jesus recém-nascido. À porta, com os seus presentes ao lado, camponesas e pastores ajoelhados comungavam na adoração. Outros bailavam no pequeno terreiro, entre músicos bonacheirões e fantasistas. Os três Reis Magos, lá longe, mal saíam ainda do seu Castelo, a Estrela que os guiava estava pendurada sobre o sagrado curral, pela encosta abaixo havia casinhas de papelão e tocos de vela cujas chamazinhas tremeluziam... Que festa! Nunca houvera, nunca mais poderia haver outra assim. Que bem pago me sentia das canseiras que tudo aquilo pudera custar-me, aliás já entremeadas de belos sonhos em que entrevia este mundo maravilhoso! Mas que digo?! Levantado ele, já de modo nenhum acreditava eu que esse mundo maravilhoso pudesse haver saído das nossas mãos...

 

José Régio, Confissão dum Homem Religioso.
Volume póstumo. Introdução e notas de Orlando Taipa.
Brasília Editora, Porto, 1971, p.29.

«magia sem objecto»

Dezembro 21, 2023

É pelo seu extremismo que a aventura da arte moderna seduz e interroga, pondo a nu a qualidade de acto mágico que foi sempre a sua. O que é novo nela é ser magia sem objecto, acto mediador sem nada para unir, nem do lado do homem, nem do lado do universo. Estamos no ponto zero do imaginário, obrigados ao mesmo imperativo de possuir a Realidade, mas sem conhecer ou reconhecer figura alguma das que se dão como tal. A total liberdade, ou o total abandono do pintor de hoje, são por isso inversos dos do homem de Lascaux e Altamira, embora ambos participem numa similar intenção mágica. A Realidade existe soberanamente para o homem de Lascaux. Aprisioná-la, tê-la ao alcance das mãos e dos olhos é o que ele visa «pintando-a». Para o pintor contemporâneo a Realidade evaporou-se, a sua, antes de todas as outras. Ele não pode pintar o que não existe mas pode fazê-lo (julga ele) existir. [...]

Contudo nesta prática extrema brilha um apetite de Absoluto mais radical ainda que o do homem de Lascaux e Altamira. O que nestes se dirigia ou provinha da Luz é agora suscitado pela Noite. A mão segura do pintor de Lascaux era guiada por uma plenitude visual, por uma fantástica realidade que só podemos imaginar lembrando-nos da nossa infância, dos seus êxtases infinitos e seus terrores desmedidos. Pintando bisões desenhavam a face de Deus.

 

Eduardo Lourenço, O Espelho Imaginário. Pintura antipintura não-pintura.
Artigo Pintura Antipintura Não-pintura ou a Nudez do Rei.
O Comércio do Porto, página «Cultura e Arte», direcção Costa Barreto, Dezembro 1962.
Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Colecção Arte e Artistas, [Lisboa], s/data [1981], pp.52-53.

«aqui na Península»

Dezembro 18, 2023

«En los trances duros, los señoritos invocan la patria y la venden; el pueblo no la nombra siquiera, pero la compra con su sangre.» [Antonio Machado]

Sempre, sempre foi assim, aqui na Península.

 

Antonio Machado.

Bernardo Santareno, Frederico Garcia Lorca e o Segundo Século de Oiro.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros.
Lisboa, Ano II, Número duplo 6/7, Verão de 1965, p.114.

«a cena portuguesa»

Dezembro 15, 2023

Para completar, a economia se conturba, não permitindo que o drama real, vivido no dia a dia por uma população de baixo poder aquisitivo, sustentasse o drama fingido. Ante a insolvência dos campos, com as herdades senhoriais improdutivas ou as pequenas propriedades insuficientes, ou ante a precária vivência urbana, aberta para fora, ao sabor da aventura e da fortuna imprevista; ante uma administração cada vez mais centralizada, impotente para fixar o limite dos privilégios e industriar os meios que sustentassem o reino, ou ante o nascente e avassalador capitalismo estrangeiro que, através do empréstimo, referendava Lisboa universal como simples empório dos seus bancos; a cena portuguesa se restringe ao prazer de uma classe inconsequente, muito chegada à corte, ou se esgota na atracção da moda, exercida no chulo, como divertimento e olvido.

Seria desejável que manifestação de cultura tão comprometida com a índole nacional enraizasse naquilo que mais pode singularizá-la: a reedição das histórias lavradas na própria história. [...] O tempo veio acrescentar falha pior: o medo à liberdade de ser. Teima-se ainda na vergonha de ser português, põe-se em dúvida as certezas do ser português, suspeita-se até da língua, e o resultado é quanto vemos: imitação do alheio, resquícios palacianos que reduzem a plenitude da transposição dramática.

 

José Santiago Naud, Breve Proposição à Cena Brasileira.
Espiral – Cadernos de Cultura, Direcção António Quadros.
Lisboa, Ano II, Número duplo 6/7, Verão de 1965, pp.55-56.

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Literatura, Arte, Filosofia, Cultura.

Pensamento e crítica em

Língua Portuguesa.


Com a responsabilidade própria de cada um (autores e leitores).

Sem inferências: sem extrapolações.



Sínteses

o mundo - pensou e pensará - paysagens
cultura - porém - desmedida
e o imaginário - a ressoar - nomes opacos
infinitamente - um drama - da inteligência
ponto de vista - Espírito - dor escondida
ainda - do limite - das dramáticas vivências
a realidade - a Vida - a inconsciência
A violência - uma constante - da história
importa...saber - Os factos - de complicações
Ser Profundo - na medida - nem...nem...
Com efeito - Não há factos - Do absoluto
Em suma - como suicidas - que correm...
Este mundo - exuberantemente - superficial



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Tema

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Victor Hugo, Carta a Pedro de Brito Aranha





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Honoré de Balzac (1799-1850)

Italo Calvino (1923-1985)

Jacob Böhme (1575-1624)

Karl Jaspers (1883-1969)

Lothar Thomas ( ? )

Manoelle Amé-Leroy ( ? )

Max-Pol Fouchet (1913-1981)

Michel Giacometti (1929-1990)

Molière (1622-19672)

René Grousset (1885-1952)

René Huyghe (1906-1997)

Ricardo Paseyro (1924-2009)

Rokuro Abe ( ? )

Tadao Takamizawa ( ? )

Tavae Raioaoa (1946-2010)

William Shakespeare (1564-1616)

Woody Allen (n.1935)

Referências

Plurais

Afonso Botelho (1919-1998?)

Agostinho da Silva (1906-1994)

Almada Negreiros (1893-1970)

Álvaro Ribeiro (1905-1981)

António Quadros (1923-1993)

Fernando Pessoa (1888-1935)

Alberto Caeiro

Álvaro de Campos

Bernardo Soares

Ricardo Reis

José A. Ferreira (1927-2022)

José Marinho (1904-1975)

José Régio (1901-1969)

Leonardo Coimbra (1883-1936)

Lima de Freitas (1927-1998)

Orlando Vitorino (1922-2003)

Ernesto Palma

Raúl Brandão (1867-1930)


Parcelares

Adolfo Casais Monteiro (1908-1972)

Agustina Bessa Luís (1922-2019)

António Braz Teixeira (n.1936)

Bernardo de Brito O. Cist. (1569-1617)

Campos Monteiro (1876-1933)

Carlos Queiroz (1907-1949)

David Mourão-Ferreira (1927-1996)

Delfim Santos (1907-1966)

Eduardo Lourenço (1923-2020)

Fernanda de Castro (1900-1994)

Fernando Namora (1919-1989)

Fidelino de Figueiredo (1889-1967)

Florêncio Terra (1858-1941)

Francisco da Cunha Leão (1907-1974)

Gabriel Mithá Ribeiro (n.1965)

Geraldo Bessa Victor (1917-1985)

Henrique Barrilaro Ruas (1921-2003)

Jaime Cortesão (1884-1960)

Jorge de Sena (1919-1978)

José Eduardo Agualusa (n.1960)

José Rodrigues Miguéis (1901-1980)

Júlio Brandão (1870-1947)

Lídia Jorge (n.1946)

Luís Forjaz Trigueiros (1915-2000)

Luiz Francisco Rebello (1924-2011)

L. Ribeiro Soares (1911-1997)

Miguel Torga (1907-1995)

Natércia Freire (1919-2004)

Ramalho Ortigão (1836-1915)

Romeu de Melo (1933-1991)

Sampaio Bruno (1857-1915)

Sant'Anna Dionísio (1902-1991)

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Teixeira de Pascoaes (1877-1952)

Vasco Graça Moura (1942-2014)

Vergílio Ferreira (1916-1996)

Vitorino Nemésio (1901-1978)


Singulares

Aarão de Lacerda (1890-1947)

Agostinho de Campos (1870-1944)

Alexandre Fradique Morujão (1922-2009)

Alves Redol (1911-1969)

Anthero de Figueiredo (1866-1953)

Antero de Quental (1842-1891)

António Alçada Baptista (1927-2008)

António Damásio (n,1944)

António Ennes (1848-1901)

António José Saraiva (1917-1993)

António Lobo Antunes (n.1942)

António Lopes Ribeiro (1908-1995)

António de Mascarenhas (1916-1993)

António Sérgio (1883-1969)

Aquilino Ribeiro (1885-1963)

Arnaldo França (1925-2015)

Augusto Saraiva (1900-?)

Bernardo Santareno (1920-1980)

Carlos Botelho (1899-1982)

Carlos Paredes (1925-2004)

Castro Soromenho (1910-1968)

Cecília Meireles (1901-1964)

Costa Pinheiro (1932-2015)

Daniel Bernardes (n.1986)

Dom Marcos Barbosa O.S.B. (1915-1997)

Duarte Ivo Cruz (n.1941)

Eça de Queiroz (1845-1900)

Eudoro de Sousa (1911-1987)

Fernando Lopes Graça (1906-1994)

Fernando Sylvan (1917-1993)

Ferro Rodrigues (Eduardo Alberto) (1925-2006)

Flávio Gonçalves (1929-1987)

Francisco Sottomayor [Filos.] (1927-1985)

Frederico de Freitas (1902-1980)

Gabriel Magalhães (n.1965)

Heloisa Cid (1908?-?)

J. Coelho Pacheco (1894-1951)

João Ferreira OFM (n.1927)

João Gaspar Simões (1903-1987)

João Tavares (1908-1984)

Joaquim Manso Com.S.E. (1878-1956)

Joel Serrão (1919-2008)

Joly Braga Santos (1924-1988)

Jorge Peixinho (1940-1995)

José Afonso (1929-1987)

José-Augusto França (1922-2021)

José Hermano Saraiva (1919-2012)

José Leite de Vasconcelos (1858-1941)

J. Teixeira Rego (1881-1934)

Júlio [dos Reis Pereira] (1902-1983)

Júlio Dantas (1875-1962)

Júlio Pereira (n. 1953)

Lauro António (1942-2022)

L. Ribeiro Soares (1911-1997)

Manoel de Oliveira (1908-2015)

Manuel Breda Simões (1922-2009)

Manuel Ferreira Patrício (1938-2021)

Marcelino Mesquita (1856-1919)

Maria do Carmo Vieira (n.1952)

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Maria João Pires (n.1944)

Maria Judite de Carvalho (1921-1998)

Mário Cesariny (1923-2006)

Mário Cláudio (n.1941)

Mário Saa (1893-1971)

Moniz Barreto (1863-1899)

Nadir Afonso (1920-2013)

Nunes da Rosa (1871-1946)

Nuno Gonçalves (Século XV)

Oliveira Martins (Joaquim Pedro) (1845-1894)

Orlando Ribeiro (1911-1997)

Orlando Taipa (1921-1990)

Rómulo de Carvalho (1906-1997)

Santiago Naud (n.1930)

Sérgio Azevedo (n.1968)

Silva Telles (1860-1930)

Soeiro Pereira Gomes (1910-1949)

Teixeira de Carvalho (1861-1921)

Theophilo Braga (1843-1924)

Trindade Coelho (1861-1908)

Vianna da Motta (1868-1948)

Victor Mendanha (1941-2021)

Viriato Soromenho-Marques (n.1957)

Vitorino (Salomé) (n.1942)

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)


Particulares

Alexandre Coelho

Antunes Valente

Fernando Morgado [Arq]

Fernando Ruy dos Santos Gilot

Fernando Sant'Ana

Graça Almeida Rodrigues

Humberto d'Ávila

Luís Chaves

Luís Furtado

Luís Teixeira

Márcia Seabra Neves

Manoel Monteiro

Santos Alberto



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